Crianças no Canadá: Uma vida simples por um mundo melhor

Nos meses de verão você se vira nos trinta para dar conta das crianças em casa e as mil atividades que isso envolve. No inverno, América do Norte, além dacorreria normal de rotina, você ainda precisa lidar com os imprevistos em função da neve.

 Em New Brunswick, província onde moro, as aulas são canceladas sempre que há uma nevasca intensa ou as ruas estejam escorregadias. É difícil estabelecer uma rotina e você precisa de muita criatividade para manter a turma ocupada.

Para quem trabalha fora de casa é dia livre, mas para os que exercem suas atividades profissionais “em casa” a coisa complica. E nessa novela em função do clima acabei aprendendo muito com as mães canadenses.

Organização

Percebi a necessidade de me organizar e estar sempre preparada para esta jornada dupla. Não que seja ruim, mas é, de fato, intensa. Até porque babá e empregada por aqui é artigo de luxo.

Conheço mães e pais canadenses de todos os tipos e estilos. No geral são amorosos e dedicados, mas percebo que a maior parte deles leva menos a sério algumas coisas que, para nós, brasileiros, são relativamente importantes. A lista é longa, mas dá para ter uma idéia de como a banda toca por aqui.

A minha primeira lição: deixe a criança ser criança

Não percebo que há, em boa parte do Canadá, uma erotização tão precoce das crianças. Seja através de músicas, brincadeiras sutis etc. Criança assiste filme de criança, ouve música de criança e brinca de acordo com a sua faixa etária até quando for possível.

E os pais são muito atentos a isso. Ligados até demais. Digo, porque já fui chamada na escola, em Toronto, porque meu filho, que na época tinha apenas TRÊS ANOS, havia beijado uma coleguinha na boca. Tive que participar de uma reunião com o meu marido para explicar que era um beijo inocente, afetuoso.

Mostrei que somos uma família brasileira e temos o hábito de beijar nossos filhos na boca. Me comprometi em conversar com ele em casa sobre o assunto.Por que estou falando isso ? Para explicar que muitas vezes tivemos que nos adaptar ao modus operandi local, sem perder a ternura brazuca. Não sou obrigada a parar de beijá-lo. Mas explicamos para ele que beijo na boca só no papai e na mamãe.

Desprendimento salvador

Uma coisa que também me chama muito a atenção – e é comum por aqui – é quando vejo um dos pais andando lá na frente e a criança caminhando alguns passos atrás. Eu, que tenho desde sempre a mania do “segura a minha mão”, achava isso o fim dos tempos logo que mudei pra cá.

Hoje já acho que esse medo latente é uma característica muito forte de quem vem de um país com mais riscos. Aqui raramente passará um maluco pela família e levará a criança embora.

Além do mais, não observo com tanta frequência aquelas “manhas” infantis tradicionais, de ver criança deitada no chão, enfim, o escândalo clássico. Se começou o chororô na hora de ficar na creche, ficará chorando até a hora da mãe voltar. Creio que sou a mãe mais “tolerante” da escola da minha filha. Sou a única que seca as lágrimas na hora de ir embora.

Reutilize para estar na moda

Quando abro meu facebook e vejo fotos de crianças arrumadinhas, combinando o sapato com a camisa, lembro que esses dias meu pequeno de seis anos foi para escola de calça azul, blusa vermelha e meias diferentes em cada pé.

Chamei a atenção dele sobre as cores e ele retrucou: – Mamãe, aqui ninguém dá bola pra isso. Trocando em miúdos, aqui você não vale o que veste.

E esse quesito me interessa. Não que eu não curta moda, harmonia de cores e tal. Mas são esses valores que quero passar adiante. Se ele estiver com o tênis mais caro ou com o sapato da lojinha barata da esquina, isso pouco fará diferença.

Eles irão reparar sim, por exemplo, se a blusa dele está curta. E talvez alguma professora/mãe possa oferecer as roupas do seu filho mais velho. Aliás, isso é outro ponto legal. Tudo se reaproveita.

Acho que mais de 50% das roupas de meus filhos foram doações de amigos. E eu continuo fazendo a roda girar. Do patrão ao funcionário, todo mundo troca e reutiliza: sejam roupas, brinquedos e tudo que estiver em boa situação e for útil para o próximo e inútil para você.

Aniversário não é motivo para desperdício

Sabe aquelas festinhas cheias de docinhos, mil decorações, brinquedos e etc ?Aqui não existe. Geralmente os aniversários são simples e sem luxo. Tem o clássico bolo de chocolate e muitas mães trocam os doces por uma farta mesa de frutas picadinhas. Algumas pedem pizzas e distribuem em pratinhos para os pequenos. Tudo para facilitar a vida.

Já vi também os aniversariantes receberem ao invés de presentes uma quantia simbólica em dinheiro para ajudar alguma instituição: como o canil municipal e a casa das vovós (o asilo da cidade), por exemplo.

Acho uma escolha inteligente, nobre e inesquecível, considerando-se que mais da metade dos brinquedos irão pro lixo nos próximos meses, como de costume. Já a doação ficará para sempre na memória.

O que aprendi até agora, num país tão distante como o Canadá, é que a vida pode ser mais simples do que se imagina. E não preciso abrir mão da minhas raízes para adaptar meus filhos: o segredo é misturar a nossa calorosa brasilidade com a praticidade do mundo de Frozen.

7 thoughts on “Crianças no Canadá: Uma vida simples por um mundo melhor

  1. Muito bom. Eu adicionaria a independência das crianças e o valor pelo esforço e não pelo resultado. Com dois anos as crianças se vestem sozinhas. Não importa se de trás pra frente ou sapatos trocados. O importante eh que tentou e o “meio” resultado nunca eh meio. Eh sempre muito valorizado como sendo o melhor que se conseguiria naquele momento. Com isso vejo que as crianças crescem independentes e muito seguras!
    Looking forward to meet you.

  2. Nossa que legal, eu escolhi ir pra Ontario, Ottawa mas muitas vezes me pergunto se escolhi a província certa, sou do interior do MT e NB está cada vez me conquistando mais, meu único medo era não conseguir um emprego..
    Quem sabe quando eu chegar no Canadá eu vá para NB….
    Meus maior objetivo em ir pro Canadá é poder ver meus filhos aprendendo e crescendo de uma forma mais simples, com conceitos mais sociais, com segurança, com diversidade, multicultural.
    Parabéns pela matéria, amando suas postagens!!!

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