Tenho várias histórias que gostaria de compartilhar com as mães que me seguem. Nunca deixei de rodar dentro e fora do país, mesmo com toda logística necessária quando se viaja com crianças. No início confesso que eu até me perdia para organizar as malas e pensar em todos imprevistos que poderiam ocorrer.
Já vi de tudo que vocês possam imaginar nos meus voos entre Canadá e Brasil: de falecimento a bordo, pousos não programados ou cancelados por falha mecânica, e o mais comum, problemas do trato gastro-intestinal no seu amplo espectro. Este último, praticamente uma rotina nas minhas viagens por terra. Viajar com criança é algo, de fato, bem complexo.
NUNCA perca a fé
Você precisa estar pronta para tudo e ter paciência, porque uma hora você chegará ao seu destino. Independente da via crucis que você tenha que atravessar, não perca a fé.
Antes de dividir toda minhas sugestões quero contar sobre a viagem mais demorada que fizemos até o Brasil. É bom que a informação é do natal de 2019, pois vocês sabem que na cabeça de mãe as coisas se dissipam na nuvem.
Odisséia no espaço
No total levamos exatamente 54 horas para chegar em solo brasileiro. Um caos total. A novela começou quando chegamos no aeroporto e a cia aérea não encontrava a nossa passagem. Foi tudo cancelado, tivemos que reservar um hotel e sair no dia seguinte ainda de madrugada. Crianças e nós exaustos. Enfrentamos um voo tenso com muita turbulência e o primeiro sinal de que algo estava errado: meu filho vomitou naquele saquinho de papel. Perfeito, tudo sob controle, segue o baile.
No caminho topamos com mais duas paradas agitadas: filas enormes, bilhetes que sumiam no sistema e um sacode mas não cai perturbador. Já haviam se passado 24 horas, todos estavam exaustos e nem tínhamos pulado a linha do Equador. Finalmente depois de 30 horas conseguimos embarcar num voo que não entrava mais nem um alfinete rumo a São Paulo.
Vocês sabem o que é pressentimento de mãe ? Pois eu tive isso. Fui tocada por um “pensamento” que disse: sei lá quem sabe você desiste. As crianças estavam bem, embora cansadas. Meu marido só comentando sobre a praia. Meu filho já tinha devorado dois hambúrgueres com batatas fritas, um sinal de que nada estava fora da ordem mundial. Me acalmei, respirei fundo e parti. Digo pra vocês que não lembro da nossa entrada na aeronave, tamanho stress que passei nas quatro horas seguintes a decolagem. Em nossa homenagem um banheiro foi interditado com faixa e pompa.
Nos posicionamos lado a lado, poltronas centrais, dois e dois. Eu junto com a minha pequena de quatro anos e meu marido na frente com meu filho, ambos com um desconhecido na ponta. Foram cerca de 5 minutos de voo tranquilo, não mais que isso. Foi só tempo de respirar fundo e sentir o friozinho na barriga da subida.
Avião com todas as luzes apagadas, alerta para ninguém se levantar. Vi uma movimentação estranha na frente e subitamente meu marido se levantou com um pedaço de pão vomitado no ombro. Caos instalado. Eu apertava nos botões e nada acontecia. Tudo desligado pela decolagem. Foram segundos que levaram décadas.
Meu filho colocou para fora boa parte do seu ser. Digo que a alma foi e voltou pro corpo. Não havia saco de vômito, esqueceram de repor. Neste meio tempo o passageiro do lado torcia o nariz pelo cheiro. Daquele momento até as coisas se calmarem, foram cerca de três horas e meia num vai e vem até o banheiro. E estes nos piores momentos de turbulência:eu segurava ele com uma mão e com a outra me segurava no teto do avião. Aeromoças sentadas, serviço de bordo cancelado. Eu só pensava: porque não ouvi a minha intuição.
Higiene complexa
Meu marido conseguiu se ajeitar na medida do possível. Eu sempre levo roupa extra para todos e mais um arsenal de guerra. Nunca fui tão agradecida por ter isso a mão. A tripulação se preparou para efetuar a limpeza do que foi exorcizado com luvas, aventais e até mascara – tipo contaminação de coronavírus. Jogavam um pó e molhavam com vodka – daquelas garrafinhas que servem na parte nobre do avião.
Fizemos um coquetel Vonau + Dramin e conseguimos acalmar o ânimo. Ele dormiu e em seguida eu bebi um cálice de vinho com pedaço de pão. Foi o que restou da noite. Cinco horas depois pousaríamos no Brasil todos cheirando a vômito. C’est la vie. Foram mais oito horas aguardando no aeroporto até pegar a última conexão. Anotem esse nome “Urban Cowork Airport“. Foi lá que conseguimos tomar um banho e retomar a dignidade.
Vamos às dicas: Vou resumir tudo que faço quando pegamos a estrada, seja por ar ou terra.
- Cada adulto leva uma mochila com roupa extra. No caso das crianças, duas. Sim, levo duas trocas para cada um. Exagero? Espere você precisar pra ver.
- Levo álcool gel para limpar as mãos, usar no banheiro e até fazer uma limpeza rápida na mesinha da poltrona. Você sabia que a mesinha é o lugar mais sujo do avião, com recorde de bactérias?
- Lenço umedecido na mochila de cada adulto.
- Farmacinha: Vonau, Dramin, creme hidratante em miniatura, colírio, antiespasmódico, lixa de unha, um hidratante labial, band aid, termômetro, Paracetamol, antidiarréico, pomada para picadas de insetos e um antialérgico. Leve tudo nas embalagens originais. Clique aqui para saber mais sobre os medicamentos que entram no Canadá.
- Também carrego dois cobertores de viagem. Já dormi duas vezes em aeroportos. No carro também temos cobertas de reserva. Aliás, o governo canadense orienta que todos tenham em seus veículos um kit de emergência no inverno e de urgência médica.
- No carro temos alguns sacos plásticos extras, um pote de álcool gel e um rolo de papel toalha.
- Em todas viagens ao exterior levo a carteira de vacinação das crianças.
- Quando viajamos com as crianças de carro eu costumo preparar uma bolsa térmica com frutinhas, sucos, etc. De avião compro sempre algo para comer na área de embarque, isso quando não há refeição no voo. Isso porque as barrigas sempre roncam.
No mais é arrumar a mala e partir. Não deixe de rodar o mundo por medo de viajar com criança. É enfrentando a “trip” que se ganha experiência: ) 🍁
Para saber como eu ajusto a minha rotina diária com a maternidade, é só me seguir pelo Instagram clicando aqui.
Confira também os textos das outras participantes do projeto:
Gabriela (Toronto, ON) | Gaby no Canadá
Amanda (Richmond, BC) | Viva Canada
Beatriz (Vancouver, BC) | Biba Cria
Carol (Ottawa, ON) | Fala Maluca
Carol (Mississauga, ON) | Minha Neve e Cia
Danielle (Toronto, ON) | Vidal no Norte
Livi (Toronto, ON) | Baianos no Pólo Norte
Mari (Calgary, AB) | De Bem Com a Vida
Musa (Toronto, ON) | Mamãe Musa
Nayara (East Gwillimbury, ON) | My Family no Canada