Vida com filhos no Canadá: o lado B que ninguém conta

Com dois filhos a tiracolo e seis anos de Canadá,  já acumulo inúmeras histórias e aventuras – o difícil é selecionar a melhor. A maternidade é realmente uma caixinha de surpresas. Ninguém sai ileso das noitadas consecutivas em claro: a sua memória vai para o espaço junto com o novo idioma, entre outras coisas. O que salva é a resiliência materna. Sobrevivemos a todas as batalhas com muita criatividade.

E recomeçar em um novo país não é para os fracos: muitas questões culturais e linguísticas fazem com que tudo que você aprendeu até o momento tenha que ser revisto e adaptado à nova vida. Até entrar no esquema você percorre um caminho tortuoso e de muitas gafes, acreditem. 

Rede de apoio escassa

Esse é o principal ponto: a ausência da rede de apoio. Seja de algum parente ou um amigo próximo. Não interessa se você tem um recém nascido ou não, qualquer ajuda é sempre bem-vinda. Perdi a conta de quantas vezes fiz malabarismos para mantê-los ocupados no chão do banheiro enquanto tomava um simples banho.

Meus filhos, Bárbara e Martin, estão com quatro e sete anos, respectivamente. Estão crescendo rápido, mas ainda é necessário ter um olho no gato e outro no peixe, se é que vocês me entendem.

E nessa tal “Rede de Apoio” também incluo tudo que irá facilitar a sua vida no que se refere a serviços. Aqui em New Brunswick, por exemplo, não há o mercadinho da esquina que você corre para buscar um tomate. O supermercados geralmente ficam próximos, mas não grudados nas áreas residenciais. O mesmo ocorre com farmácias, lojas de departamentos e etc. 

Babysitter

Também não é fácil encontrar babás. Este serviço é muitas vezes feito por adolescentes em busca de alguns trocados, mas ainda não me senti segura em deixar meus filhos sobre a tutela de uma “criança” de treze anos. Sei muito bem a capacidade do Martin de enrolar um adulto, imagine alguém mais novo. Já secretárias do “lar” são outro luxo que não está Trapalhadas da vida real no Canadasobrando no mercado, além de custarem caro. 

E é certamente nesse contexto que a vida tem que fluir no Canadá. Não interessa se você tem muito ou pouco dinheiro. Aqui todo mundo participa, principalmente os pais. Perdi as contas de quantas vezes enfrentei o metrô de Toronto com duas crianças histéricas. 

E New Brunswick não fica atrás: toda vez que passo por uma rua importante da cidade lembro que já estacionei ali para limpar uma criança que tinha feito numero dois até a alma. E foi na água do rio mesmo. Saiba que toda mãe tem uma capacidade enorme de improvisação, você descobrirá a sua. 

De tudo um pouco 

A primeira cidade que morei foi kingston e lá que muita coisa interessante se passou. Logo no primeiro mês escapei de um rapaz em surto psicótico. Com meu filho no colo consegui tirar forças do além para arrastar o meu falecido labrador de 42kg até a nossa casa. Já meu pobre algoz – que me apontava uma pá como se fosse uma arma –  dizia que ia me matar. Não preciso entrar em detalhes.

Vida real no CanadaNesta época morávamos um num prédio enorme e fedorento que parecida uma casa de repouso. Tempos difíceis. Meu filho sempre foi tranquilo mas rápido no gatilho. Um belo dia ele desceu com meu marido para buscar correspondência e após poucos minutos escutei o alarme de incêndio.

Os bombeiros inclusive fecharam a rua, o que gerou um certo tumulto. Quando cheguei na portaria escutei: “Parece que não é incêndio, foi um menino que quebrou o vidro e apertou o botão para ver o que acontecia”, alguém sussurrou. Eu gelei. Já sabia o nome do culpado.


Os bombeiros foram compreensíveis e não aplicaram a multa. Tive que redobrar a atenção porque ali não teria mais crédito. Esse papo de incêndio aqui é muito sério, fiquem de olho nas crianças. 

Logo que engravidei mudamos para Toronto e outra etapa da aventura iniciou. A mudança já foi complexa: mandei meu pobre marido dirigindo o caminhão da “U-haul” sozinho e embarquei no trem grávida, com malas e um garoto sapeca na garupa. Mudamos umas três vezes no mesmo prédio e três também foram as ocasiões que corri para a emergência do hospital Mount Sinai  para tirar algo que meu filho tinha enfiado no nariz.

O “perrengue” é igual ao do Brasil?

Em termos. As aventuras são as mesmas a questão é que você está num lugar que tem outra cultura e idioma. Quando o bichoVida real no Canada pega você precisa se fazer entender. E muitas coisas são diferentes: costumes, manias e até a maneira de encarar a vida em família. Eles são   simples e práticos. Não encontro muita frescura por aqui.

Hoje me vejo uma pessoa mais desprendida e “desavergonhada”. Já domino bem idioma, mas ainda existem questões sendo trabalhadas. Uma coisa eu asseguro para vocês: passar aperto num lugar relativamente “seguro” é muito mais fácil.

Uma vez calculei errado o tempo e quando terminei minhas compras não tinha mais forças de percorrer as seis longas quadras que separavam a Dollarama até o prédio em que eu morava. Era início de dezembro, já tinha anoitecido e estava começando a nevar.

Perrengue

Carregava duas crianças exaustas e famintas. Quem me salvou ? A polícia. Isso mesmo, ganhei uma linda carona após pedir socorro. É disso que estou falando, entenderam ?

E se você não ficou satisfeito com todos esses “perrengues”, é só acompanhar a minha rotina com filhos pelo Instagram clicando aqui. Você vai saber de coisas que nem imagina : )

Confira também os textos das outras participantes do projeto. Todo dia 20 do mês tem novidade no site:

Gabriela (Toronto, ON) | Gaby no Canadá
Adriane (Ottawa, ON) | Like a New HomeMães do Canadá

Alessandra (Bathurst, NB) | Canadiando
Amanda (Richmond, BC) | Viva Canada
Beatriz (Vancouver, BC) | Biba Cria
Carol (Vancouver, BC) | Fala Maluca
Carol (Mississauga, ON) | Minha Neve e Cia
Danielle (Toronto, ON) | Vidal no Norte
Livi (Toronto, ON) | Baianos no Pólo Norte
Mari (Calgary, AB) | De Bem Com a Vida
Renata (Burnaby, BC) | Mala Inquieta

4 thoughts on “Vida com filhos no Canadá: o lado B que ninguém conta

  1. Viver perrengue já é difícil em qualquer lugar, mas em terras estranhas adiciona um nível de dificuldade né?

    Alessandra o teu filho é igual a minha mais nova, super criativo para fazer arte. Hahaha

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