Após a longa pausa quase sabática, o retorno ao Canadiando é necessário para aquietar a mente agitada. Depois de um ano intenso encerramos 2014 com muitas mudanças. Vida nova na maior cidade canadense e quarta maior da América do Norte. Com poucos dias percebi que também é uma das mais multiculturais e dinâmicas. Para apaixonar foi rápido.
Até então pensava que em Toronto nevasse significativamente menos que em Kingston, nossa última morada, mas a alternância na centimetragem não fez a mínima diferença. Se lá neva 15 e aqui 10 centímetos, no fim das contas, “peanuts” é tudo igual.
Já em relação ao frio, já sei que entre o raio de – 10 e – 20 graus centígrados é possível sobreviver tranquilamente com a roupa adequada. Já quando o vento polar bate e o termômetro passa dos -20 centígrados a coisa complica. É ruim para respirar, andar, interagir e nem pensar em colocar a mão para fora do casaco sem uma boa luva. Até então tivemos poucos dias dramáticos em que a sensação térmica passou dos -30 centígrados.
Já no fim do inverno o sal espalhado pelas ruas corrói as botas e mancha os casacos. Os carros estão imundos por dentro e as lojas já anunciam as ofertas de primavera verão,mesmo com neve nas vitrines.
Os dias de sol enganam: são os mais congelantes e assustadores. Você olha para o céu e vê um azul maravilhoso, mas uns cinco segundos de contemplação podem congelar a sua córnea e o pensamento.
O mês dos destemperados
Fevereiro é o mês em que os canadenses estão mais irritados. Já tinha percebido isso no ano passado e bati o martelo em Toronto. Ninguém aguenta mais o frio, as nevascas de fim de semana e a pá de neve. No fim do dia o difícil é arrancar um sorriso. No metrô você sente o drama mais de perto. Entre livros e tecladas nervosas nos celulares, você encontra olhares perdidos, famintos e exauridos pela rotina de urso.
Já nas ruas as bicicletas parcialmente soterradas são o retrato da estação: corroídas pelo sal , independente do modelo, lá estão elas em hibernação compulsória aguardando o degelo.
Nestes últimos três dias não tivemos neve e o por do sol rosa choque pintou no horizonte. É bom saber que, apesar de tudo, existe luz no fim da rua, onde no meu caso o sol brilha com mais força. Nada é eterno ou perene. Se há pouco estávamos nos deliciando com as cores das folhas secas de outono, teremos em frente a explosão de vida da primavera no hemisfério Norte. É o Canadá pulsante que me surpreende mais a cada dia.